Os Gabelenses



História do Amboim


Introdução e esclarecimento

Por considerar um elemento histórico importantíssimo, no conhecimento da nossa terra, e para que todos os naturais e ex-residentes da Gabela e do Amboim em geral, tenham acesso a ele, resolvi transcrever este texto. O texto foi publicado num artigo na Gazeta das Colónias a 15 de Janeiro de 1925. Na sua transcrição atualizei a escrita de determinadas palavras, procurando nunca alterar o sentido das frases nem o texto. Espero que com esta minha intervenção enriquecer o conhecimento de todos os Gabelenses e Amboins, sobre a sua terra.

Luís Filipe Castro

 

 

A Ocupação

Pouco se sabe desta região anteriormente a 1880. Dessa data em diante, já alguns comerciantes do litoral se aventuraram a subir ao Amboim, vindos de Benguela Velha (Porto Amboim) pelo lado de Cambalo, mas que raras vezes penetravam no centro da região, limitando-se a estabelecer o negócio nas Libatas mais excêntricas e mais próximas do litoral.

Essa aventura. porém, não era feita sem uns certos riscos ou sem umas certas formalidades. Ao Soba, cujo terreno se ia atravessar, tinha que se lhe pagar «o caminho». O comerciante ficava á entrada da Libata, enviava os seus emissários ao Soba, pedindo permissão para atravessar as suas terras. O Soba mandava os seus guias, o comerciante entrava e pagava o preço convencional, que eram, em regra, dez peças o um garrafão de aguardente.

Antes disso, o comércio era exercido por Kinbares pretos saídos de Benguela Velha e Novo Redondo (antigos serviçais que os patrões emancipavam por conveniências comerciais e estabelecendo, assim, as suas primeiras relações com o sertão)

Alguns daqueles primeiros comerciantes foram vítimas das suas aventuras, tendo o europeu conhecido pela alcunha de “Anganahanga” tido uma morte horrorosa na mão dos indígenas, na Libata do Assango, que lhe lançou óleo de palma a ferver pela boca, quando esse infeliz dormia a sua sesta, depois do almoço.
No entanto, o sertão ia tentando mais alguns aventureiros e, em 1888, foram para o Amboim, António José Santos e Ernesto da Silva Melo, a quem, pouco depois, se seguiram Semião Pinto, Couto e outros.

Não havia comércio fixo, por causa das guerrilhas em que frequentemente andavam envolvidos os indígenas.

O Amboim pertencia, então, ao concelho de Novo Redondo e a autoridade não tinha ainda reconhecido essa região.

A primeira dificuldade estava logo no caminho, pois que a 10 horas de viagem daquela vila encontrava-se a Libata da Sanga, situada numa ilha do Rio Cuvo, e cujo Soba não respeitava a autoridade, valendo-se, principalmente, do magnífico ponto estratégico em quo se encontrava.

Já em 1872 se tinha pretendido inutilmente impor-lhe o devido respeito á nossa soberania. Em 1893, várias colunas se organizaram para esse fim, que, mais ou menos, alcançaram o seu objetivo. Porem, só em 1894 pode ser criado na Sanga um posto militar, o que representou o primeiro passo para a ocupação do interior. Em 1899, o chefe do Concelho de Novo Redondo, médico militar José Maria de Aguiar, confiado na preponderância e no prestigio que tinha entre o indígenas um seu conterrâneo, o Açoreano Ernesto da Silva Melo, a quem atrás nos referimos, empreendeu a ocupação militar do Amboim, e com alguns soldados de que dispunha do destacamento de Novo Redondo, sob o comando de um alferes, subiu àquela região, tentando ocupa-la, dirigindo-se primeiramente ao lugar de Assango, onde residia o Melo. A pequena força de 30 ou 40 homens penetrou no Amboim, mas não conseguiu fixar-se, porque os indígenas, hostis e de armas na mão, o não permitiram, pelo que teve de retirar para Novo Redondo.

Pouco depois, porem, o negociante Ernesto da Silva Melo conseguia levar a Novo Redondo, afim de prestarem vassalagem, os Sobas do Assango, do Capir e da Cassussua. Era o primeiro ato de submissão que se dava no Amboim. Por portaria n.• 267, de 2 de Junho de 1899, era extinto o posto da Sanga e criado o posto no Amboim, que foi instalado em 1900 (no lugar onde hoje é a cidade da Gabela) e ficou sob o comando de um alferes. A hostilidade, porém, continuava. Os Sobas não respeitavam a nossa autoridade.

Em 1907, revoltam-se os indígenas que matam dois soldados e aprisionam os restantes de uma pequena força que foi para o submeter. Reprimida esta primeira revolta, dá-se em 1911 a segunda, que não chegou a alastrar-se e que não teve consequências, sendo facilmente sufocada com forças enviadas de Luanda.
Foi nesse ano criada a Circunscrição Civil do Amboim, que pouco meses depois, dava lugar a uma Capitania.
Deu-se então a terceira revolta do Amboim em 1917. A 7 de Maio de 1917, próximo do lugar do Assango, e perto do Rio Cuvo, foi morto pelos indígenas o ex-cabo Henrique. Foi o primeiro grito de rebelião.

Poucos dias depois, foi assassinado também pelos indígenas, nas proximidades da Roça Santa-Clara, o europeu Silva Cantante. A revolta tinha já tomado na vizinha Circunscrição do Seles um grande desenvolvimento. Em seguida, ao sul do Amboim, foram assaltadas e incendiadas as casas das Roças Boa Entrada o Rio Chilo. Para norte do rio Carlaongo, parecia reinar a maior tranquilidade.

Por espaço de vinte dias, nada mais de anormal se notou. Várias pessoas que tinham fugido para o litoral, regressaram ás suas habitações. Este facto é explicado de duas maneiras, dizendo uns que foi devido ao Soba da Libata da Honga não querer aderir ao movimento e, por fim, ter aderido.Segundo outros, foi devido à propaganda de um aventureiro luxemburguês, ali residente, que convenceu os indígenas de que nós não tínhamos soldados para mandar para o Amboim, por terem ido para a guerra europeia.

Esta propaganda, talvez, com a falta de atividade da nossa parte, fez convencer os indígenas da sua força e a revolta, que tinha alastrado no Seles, se desenvolvesse no Amboim e chegasse ao Libolo.

Foi, então, a chacina, a pilhagem, o incendio. Os atos de antropofagia sucederam-se com os maiores requintes de selvageria.

Formaram-se no Amboim dois redutos do defesa: um na Gabela o outro no Longué. Fora destes dois pontos, todas as casas foram saqueadas e incendiadas. Os europeus e os nativos civilizados que não conseguiram fugir para a Gabela ou para Longué, ou que não conseguiram alcançar o litoral, foram vítimas da ferocidade dos indígenas. Grande foi o número de sacrificados e os prejuízos materiais foram enormes. Por fim, os Amboins abateram a ofensiva, mas ocultaram-se na floresta, e não se apresentavam ás autoridades. Foram chamados os indígenas bailundos como auxiliares. Então, a pouco e pouco, foi-se atingido a normalidade.

Em regime militar viveu 10 anos o Amboim, tendo sido restabelecida a Circunscrição Civil em 1921, quando inteligentemente se reconheceu o que se tinha passado, na província de Angola, na época da ocupação. Chegara o momento de uma nova ação de trabalho.

 

Descrição física

A área da Circunscrição Civil do Amboim é de 8.500 km.

Está dividida a Circunscrição administrativamente em quatro Postos, alem do da sede, a saber:

Quilenda, de 1. • classe;

Ebo, Condé e Céla, de 2. • classe.

São três bem distintas as zonas de. que se compõe aquela Circunscrição. A primeira é a planície que corre paralela com a cordilheira do Amboim, que faz parte do primeiro sistema fitográfico de Angola e que, partindo do Congo, se estende até ao sul ·e do qual a cordilheira da Chela é ainda um dos seus prolongamentos. Esta planície, que se estende para ocidente até ao mar, é geralmente composta de terrenos de natureza silico-argilo-calcareos, alternando-se, por vezes, a sua predominância aos três elementos de que geralmente se compõe o solo e o subsolo. A configuração geral é a das grandes planícies: bastante ondulada e ravinada junto ao leito dos rios, mais ou menos secos durante o maior período do ano.

A segunda zona da Circunscrição do Amboim compreende a região do mesmo nome. E esta região designa-se rigorosamente pelos seguintes limites: ao norte, com o rio Mugige e cordilheira do Mulangando; a nascente, com a cordilheira da Donga; ao sul, com o rio Cuvo; e a poente, com a planície que se estende até ao mar. Para além do rio Mugige, embora haja semelhança não só na configuração montanhosa, com abundância de espécies florestais iguais ás do Amboim, a vegetação começa a escassear, contrastando singularmente pela sua inferioridade com a exuberância da flora do Amboim.

Entre a altitude de 300m a 1100m é que se estende o maciço montanhoso do Amboim, onde se encontra a zona florestal. O seu maior comprimento, tirando uma linha do Assango á cordilheira do Mulangando, não deve ser superior a 30 Km, e a sua maior largura pouco mais terá de 20 Km. A natureza do solo é argila-humífero tendo um sobsolo ativo, nas melhores terras de café, de 15 metros.

A altitude da Gabela, sede da Circunscrição, é de 1.000m. Toda a região planáltica da Tunda, com altitudes aproximadas de 1.400m a 2.000 m, é perfeitamente adaptável á população europeia

 

Tipo Étnico

Nada mais se sabe sobre estes povos ao que consta pela tradição oral entre eles, isto é, que, vindos dos Ganguelas, escorraçados por outras raças, caminharam ao longo do rio Quanza, estabelecendo-se na Tunda e no Amboim, tendo encontrado alguns povos aborígenes.

O Amboim, mais vulgarmente conhecido entre os indígenas pela designação de Herimba ou K´herimba (lavra) foi em todos os tempos objeto de invasões pelos povos do Bailundo e Bié, que em colunas de milhares de guerreiros vinham á conquista das mulheres por eles muito apetecidas e de outros despojos. Algumas dessas guerras são ainda de há pouco mais de trinta anos, tendo os invasores, por vezes, sofrido duros revezes, devido á guerra de emboscada que o indígena do Amboim adotava, favorecido pelos relevos alterosos do terreno e pela espessura da floresta

Não há conhecimento se os primitivos povos invasores, que se fixaram no Amboim, tiveram luta com os povos aborígenes, mas tudo faz supor que assim fosse e que a sua entrada se fizesse mais por infiltração lenta, talvez, por meio de cruzamentos. Os indígenas Amboins são de estatura regular; em geral, bem conformados; e de altura media 1,63 m. Encontra-se entre eles a cor preta retinta, o preto vulgar e o bronzeado, sendo a primeira e a última em menor percentagem. Praticam indiferentemente a exogenia e a endogenia. São polígamos

 

Situação material

Quem escreveu este artigo, e publicado na Gazeta das Colónias em 15 de Janeiro de 1925, exerceu as funções de administrador da Circunscrição do Amboim de Dezembro de 1921 a Dezembro de 1923 Na sua transcrição fiz ligeiras alterações, procurando nunca alterar o sentido das frases do texto.

Ao tomar posse não tinha pessoal para o auxiliar e não tinha casa própria para trabalhar. Aproveitou, como auxiliar, um amanuense de cor que seguia viagem de Novo Redondo para o Libolo e dispôs-se a exercer as suas funções numa dependência da secretaria da companhia indígena com sede em Gabela. Tempos depois, da leva de novos funcionários que a Agência de Angola despejou na Província, de profissões várias e de cultura restrita, alguns, a pouco e pouco, foram ficando no Amboim.
Assim se começou a trabalhar. Primeiramente, procurámos alterar o aspeto de aldeia gentílica que tinha a sede da Circunscrição. As sanzalas dos Cipaios,(polícias indígenas ao serviço do Estado), e a dos soldados, foram colocadas fora do limite da povoação. Todas as construções de pau a pique e cobertas a capim, pertencentes ao Estado, foram destruídas.

Aos particulares intimámos a seguirem-nos o exemplo. Quer na Gabela, quer em todos os Postos da Circunscrição, mandámos fazer fornos de telha para benefício dos edifícios públicos, o até os dos particulares, se bem que o nosso exemplo, neste sentido, fosse por muitos destes aproveitado. Não havia arruamentos e andava-se aos pontapés ás crostas de salalé. A residência do Administrador era uma mais do que modesta casa, com as paredes apenas barreadas, as janelas sem vidros, sem cómodos alguns, sem uma mesa para escrever, com o luxo dum quarto de pipa a servir de tina de banho! ...

No centro da povoação, um arremedo de fortaleza, com os baluartes destruídos e um fosso que era um foco de infeções ... Por toda a parte, o capim brotando impávido, os corrais dos porcos junto ás casas, as galinhas debicando no solo, em fim, a Gabela estava fora da civilização ...

Com a mudança da sede da Companhia indígena, arrasámos os restantes destroços da fortaleza e cobrimos o fosso. No mesmo lugar, foi construído um jardim público, que é o único do distrito. Ao deixarmos a Circunscrição do Amboim, tínhamos construído um grande editício ondo estava instalada provisoriamente a Administração, onde estava a Repartição de Fazenda, e com divisões para instalações de funcionários. Deixámos construído um edifício para cadeia, com duas amplas salas e quartos particulares; e também a Escola de Artes o Ofícios com três amplas salas, cheias de luz, com 20 m de comprimento por 6,40m de largura, e onde funcionavam já com magníficos resultados as oficinas de carpinteiro e de serralheiro.

Iniciamos a construção de um novo edifício destinado à Administração e cujos trabalhos, deixamos bastante adiantados, possivelmente foram perdidos pela incúria de outros

Também iniciámos a construção de pequenas casas destinadas a cipaios e algumas das quais estavam quase concluídas. Projetávamos a construção duma nova residência para o administrador, de que já possuíamos a planta; um talho municipal, cuja verba de despesa já estava orçamentada; e um edifício para instalar convenientemente a Estação dos Correios e Telégrafos, desde que fôssemos auxiliados pelo Estado. Ainda a construção dum edifício destinado a escola oficial municipal, com a respetiva residência para professor, estava no nosso plano de trabalhos, e da mesma deixámos no Amboim a respetiva planta. E, a propósito, vem agora referir aqui um caso curioso: oficialmente, um dia, fomos preguntados se era necessária uma professora em Gabela e se tínhamos casa para a escola. Respondemos prontamente que a professora não ora ali necessária e que não tínhamos casa para funcionamento das aulas. A professora, porém, apareceu no Amboim, contra as minhas informações e as do próprio governo do Distrito, conservando-se a competente repartição de Luanda indiferente ao que dizíamos, num propósito evidente de colocar uma protegida. Não lho demos posse, evidentemente. A professora lá ficou, porém, gozando a lua de mel junto do marido, empregado de uma empresa agrícola, recebendo, apenas, o vencimento de categoria, pago, claro, pelo Estado, não evitando nós, porém, que os parvajolas que por ali passam nos acusem destes desperdícios de dinheiro, que nos não pertencem ...

Os Postos da Circunscrição mantinham ainda o especto militar, com baluartes e fosso, numa atitude guerreira que já não tinha lugar. Além disso, as casas não ofereciam conforto algum. Fizemos a sua transformação. As casas dos Postos do Condé e da Céla foram de tal maneira modificadas, que bem pode dizer-se que foram feitas de novo. Criámos o Posto do Ebo, com as respetivas edificações. Deixámos sensivelmente melhorado o Posto da Quilenda. A estes Postos fornecemos o indispensável mobiliário e mais necessários artigos de uso, quando o fizemos para. a Administração e para a residência do Administrador

Devido á atividade do inteligente Delegado do Saúde, iniciou-se a construção de um hospital, para europeus e indígenas, com 40m de frente por 17m de lado, tendo sete quartos, enfermaria, duas salas para curativo, casa de banho, farmácia, secretaria, etc., e cujo trabalhos foram suspensos por motivos estranhos á boa vontade do citado funcionário.

As residências dos particulares, devido á nossa iniciativa, também se modificarem duma maneira apreciável, perdendo o especto de cubata que tinham na sua maioria e que tão pouco dignificava a nossa civilização, impondo-nos ao respeito dos indígenas. Proibimos a cobertura a capim nessas casas, e mesmo no interior, fornecendo telha dos Postos do Condé e da Céla a todos aqueles que a quisessem adquirir. Num ano, apenas, quase todas as casas comerciais se transformaram. Nas propriedades agrícolas, havia expendidas casas de residência e muitas deixámos em construção quando saímos do Amboim.

As estradas já existente circunscrição foram convenientemente reparadas e aperfeiçoadas. Outras foram construídas e algumas deixámos em vias de conclusão. Numa recente correspondência do Amboim para um jornal lisboeta da tarde, diz-se quo aquela circunscrição tem perto de 600 Km de estrada. Cremos que é qualquer coisa de apreciável, atendendo, principalmente, a que o terreno, sobretudo na parte florestal, é essencialmente acidentado. Depois da nossa saída, um ano excecional de chuvas inutilizou, segundo nos consta, grande parte das estradas e a falta das providências, prontas e imediatas, agravou o mal. Por meio de estradas próprias para viação acelerada, deixámos ligados os Postos á sede da Circunscrição. Procurámos a construção de estradas que servissem a todos os agricultores, de maneira que o transporte mecânico dispensasse o carregador.

Muitas centenas de quilómetros deixámos construídos e alguns em execução e em estudo. Aos particulares, prestámos também o nosso auxílio. Algumas empresas agrícolas, como a Companhia do Amboim, por exemplo, dispensaram-se a alimentar o pessoal que lhe fornecíamos e a dispensar ferramentas para construção de estradas dentro das suas propriedades e apenas com aqueles encargos gozam hoje de um benefício de que não nos arrependemos, pois do seu interesse aproveita o estado. Também deixamos em início a construção de uma ponte sobre o rio Cuvo, numa extensão de 40 metros, feita de acordo com a vizinha Circunscrição dos Seles e para ligação entre esta e o Amboim.

Sem dispêndio para o Estado, dispusemo-nos a fazer a ligação Telefónica com o Posto do Ebo, por ser o mais central, e o que não tivemos ocasião de concluir.

Foi uma época febril de atividade, aquela, e trabalhando-se apenas com os parcos recursos do fundo da Circunscrição, e com as receitas municipais, pois o que do Estado recebemos não chegaria para pagar uma crónica elogiosa a qualquer gazeteiro em excursão por terras de Africa ...

 

Situação económica

As receitas cobradas pelo Estado na Circunscrição do Amboim, e arrecadadas na repartição de Fazenda referente nos quatro últimos anos económicos de que temos conhecimento foram as seguintes:

1919-1920……………109.759$62

1920-1921……………123.209$55

1921-1922……………205.807$62

1922-1923……………528.869$23

A diferença do aumento de receitas nestes dois últimos anos económicos, é devida especialmente ao aumento da taxa do imposto indígena. No ano económico de 1923· 1924, com o aumento da taxa para 40$00, realizámos nós uma cobrança superior a 800.000$00. No presente ano económico essa taxa foi elevada a 80$0, excluídas, porém, as mulheres do pagamento do imposto.
Mas o aumento das receitas do imposto indígena, é não só devido ao aumento da taxa, mas principalmente ao numero de contribuintes, pois que recenseamentos devidamente elaborados no nosso tempo elevaram o seu numero, sendo exemplo o que se deu no Posto da Cela, quase abandonado, e que de 1.700 passou a perto de 6.000 recenseados.
A população europeia é de 224 varões e 31 fêmeas. Estes elementos estatísticos, como todos os demais necessários, constam, pelo menos, dos relatórios que elaborámos e que enviámos ao Governo do Distrito, deixando a respetiva cópia no arquivo da Administração, e onde qualquer pessoa bem intencionada, os poderá encontrar.
Ao concluirmos o nosso relatório do ano económico de 1922-1923, existiam na Circunscrição as seguintes casas comercias:
Posto da sede, 9;
Posto do Condé, 11;
Posto do Ebo 17
Posto da Céla, 8
Posto da Quilenda, 2.
Transacionam aproximadamente 420.000 arrobas por ano e empregam 3.400 carregadores. O seu negócio é feito especialmente com as propriedades agrícolas, a quem fornecem para alimentação do pessoal trabalhador, a Fuba e o feijão que adquirem por meio de permuta com o indígena.
Rigorosamente, só há uns cinco anos 6 que a agricultura no Amboim começou a tomar um certo desenvolvimento e que pouco depois começou a intensificar-se o trabalho nas propriedades. De maneira que há tudo a esperar do trabalho que atualmente ali se está fazendo e a produção deve aumentar de ano para ano sensivelmente. Mas o maior desenvolvimento da agricultora do Amboim, todo o seu desenvolvimento, depende do número de trabalhadores que possua. Ora, sendo este número limitado, os agricultores devem procurar dispensá-los de onde possam ser dispensados. Só em transportes de cargas devem andar ocupados 8.000 indígenas. Desde que haja meio de transporte mecânico ou animal, para essas cargas, serão mais 8.000 pessoas a prestar serviço nos trabalhos agrícolas.
É ocasião de falarmos do importante benefício que o caminho de ferro em construção virá em breve prestar àquela rica e importante região. Logo que o seu funcionamento se dê, pelo menos, até á base da serra, os produtos serão pronta e facilmente drenados para Porto Amboim (Benguela Velha) com uma grande economia dos braços. Neste momento, o distintíssimo mo engenheiro que é Fernandes Torres, quo porfiou ao seu estudo, ativa, cremos, a sua construção. E ao esforço desse espírito invulgar de trabalhador, que é Bernardino Corrêa, se deve a iniciativa de tal cometimento que vai beneficiar todas as empresas e todos os agricultores, valorizando e enriquecendo a economia do distrito. Nem sempre, infelizmente, os seus auxiliares são dignos de si e com a sua atual presença no Amboim muito deve beneficiar a Companhia que inteligentemente administra.
Também da aplicação de maquinismos, resultará uma grande economia de braços. Se a região é excessivamente montanhosa e não permite o emprego de arados, capinadoras, etc., o mesmo não sucede com o emprego de máquinas para beneficiação do café e no fabrico de óleo de palma. Pois em todas as propriedades os processos em uso são muito rudimentares, exceção feita da Companhia do Amboim, Companhia do Cuanza Sul o do agricultor António Couto.
Há agricultura do Amboim, prestámos nós supomos que importantes auxílios. Sabido que geralmente o indígena não trabalha sem a intervenção da autoridade, é do consenso desta que provem, especialmente, o angariamento de mão da obra. Mas no Amboim não há o número dos braços suficientes para as suas necessidades, e é forçoso angariá-los onde os houver. Em geral, o agricultor foge a fazê-lo, não só pela maior despesa que isso importa, mas por outros motivos e, entre estes, porque os indígenas das demais Circunscrições não compensam, em geral, na sua ignorância de serviços agrícolas, o tempo restrito do contrato.
De resto, estamos convencidos de que alguns agricultores que bramam contra a falta de trabalhadores o fazem apenas como tática, para justificar o aproveitamento das suas concessões, pois as despesas de mão da obra são bastante elevadas e nem todos tem o capital necessário para as custear. Nós somos de opinião que seria conveniente rever as concessões de terrenos e possivelmente legislar de novo neste sentido, de maneira que a cada um fosse concedido ou mantivesse na sua posse o que legitimamente poderia trabalhar. Novas atividades iriam enriquecer aquelas terras e sem prejuízo de maior para os que já lá estão. Este assunto, porém, dar-nos-á margem a um artigo especial.
Em todas as propriedades, são completas as instalações para o pessoal. Em algumas, mesmo, excedem o exigido pela lei. Todas as propriedades possuem ambulâncias e todas estão construídos pequenos hospitais, sendo que em algumas delas já existem
O indígena é submisso e trabalhador. As faltas passadas nada justificam, ou, antes, podiam justificar faltas em que é melhor não falar· mos... concorrendo para que ele trabalhasse, como o fizemos, concorremos também, para que o seu tratamento, por parte dos patrões, fosse legal e humano. Foi-o. O tratamento dado aos indígenas, na nossa passagem pelo Amboim, pode orgulhar-nos e honra os esforçados colonos que ali labutam.
Na Circunscrição do Amboim, há 57 propriedades agrícolas, que empregam geralmente dez a doze mil trabalhadores. A área demarcada a cultivada, por essas propriedades, no ano de 1923, segundo os nossos apontamentos, era de, respetivamente, 57.962 e 23.058 hectares. Sabe-se que a sua riqueza agrícola consta principalmente do café e da palmeira Dem Dem. O cacau é apenas uma tentativa em uma ou duas propriedades, e a plantação do algodão começa · agora a desenvolver-se. O café do Amboim tem hoje uma esplendida cotação, devido á sua superior qualidade. Razão tinha o botânico suíço Grosweiler quando, em 1908, iodo estudar a flora daquela região, disse que tinha ficado surpreendido com a boa qualidade do seu café, que era o melhor que havia na Província. Na zona planáltica, como Tongo, Choa e Medunda, semeia-se em larga escala o milho e o feijão, e neste último lugar tem.se feito a experiência do trigo, lavrando-se por processos mecânicos. A produção, em 1923, foi, em arrobas, aproximadamente a seguinte:
127.000 arrobas de café,
72.000 arrobas de oleaginosas,
730 arrobas de cacau,
2.600 arrobas de algodão
9.600 arrobas de culturas diferentes.
A produção do café, em 1924, com um ano prodigioso de chuvas, como teve, deve ter ascendido a 160.000 arrobas.
A cerca do Amboim e da Gabela bem poderíamos falar, se não fosse forçoso resumir as nossas considerações num artigo do jornal. A cada capítulo dos que aqui deixamos seria devido mais desenvolvimento.

 

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